quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Literatura Juvenil

Hoje vou eternizar aqui dois contos propostos como desafios por mim e meu esposo aos filhos dele, meus amados enteados, João e Ariana. No penúltimo fim de semana que eles estiveram conosco, eu havia presenteado Ariana com um livro muito legal, A mordida do Vampiro, de Laerte Verrier. Meu esposo ofereceu o desafio de cada um criar um conto, Ariana deveria elaborar algo com o título de “O pum do vampiro”, e João, “O pum do robô”. E não é que eles gostaram? É como todo o professor sabe: o incentivo à literatura deve partir de algo interessante para os jovens e que faça sentido no universo deles. Querem conferir essa incrível experiência? Começando pelo mais novinho, João, de 9 anos, fez o que pode ser chamado de um pequeno roteiro ou planejamento (omitindo seus fofos errinhos de português), assim:
- Por que o cientista construiu o robô? Para procurar uma namorada.
- E por que ele soltou pum? Porque esqueceu de botar um tampão na bunda do robô.
- A cidade que o cientista construiu o robô é Nova Yorque.

O PUM DO ROBÔ
Numa cidade muito distante, tinha um cientista chamado Peter Parker Watson. Ele construiu um robô. O robô fugiu para o espaço para procurar uma namorada no Futurama e soltou um pum e a robô não gostou. Ela começou a rir e ele foi embora e chorou e soltou outro pum. Fim.

João Paulo Andriotti


Na sequência, apresento Ariana, de 14 anos, leitora voraz de diversas sagas e romances diversos, com um futuro literário brilhante. 

O PUM DO VAMPIRO
Bom, você já sabe que vampiros não são como nos contos de fadas, que não podem comer alho, não podem sair no sol, senão morrem, dormem em caixões e bebem sangue... Se você não sabia, estou lhe contando agora. Vou contar uma história de um vampiro que conheci.
Logan era um menino de 17 anos, aparentava ter pelo menos, na verdade tinha 145. Sua comida preferida era pizza de alho, adorava sair em dia de sol e não dormia; ele tomava sangue de animais de vez em quando.
Estudava, comia, saiu como qualquer menino normal, o que ele não era... Um dia normal na escola de Arianópolis, Cassandra Meyer, uma garota nova na cidade, por algum motivo não parava de olhar para ele. Por que será que uma menina tão bonita olhava tão atentamente para uma aberração?
Um dia estávamos sentados no banco do refeitório Logan, Scott e eu; por algum motivo idiota que nenhum de nós sabe é que Cassandra veio falar com Logan e parecia que ele também queria saber mais dessa menina.
Uns dias depois, Logan não parava de falar nela, era óbvio que ele gostava dela e ela dele. Começaram a sair, depois de um tempo ela começou a sentar conosco na mesa do refeitório.
Foi como sempre, os dois não calavam a boca, eu comendo minha maçã, Scott sua pizza de queijo e Logan a sua de alho. Cassandra, por algum motivo mais idiota, não comia nada, só ficava olhando para Logan com um olhar estranho.
Mas de repente deu um barulho não muito alto, mas assustador, e começou um cheiro estranho e isso vinha de Logan. Olhamos para ele com um olhar assustado, mas por algum motivo mais idiota ainda, Meyer começou a rir até não poder mais e falou:
– Essa foi a primeira vez que vi um vampiro soltar pum!
Logan ficou bravo e saiu bufando do refeitório, Cassandra saiu correndo atrás, mas sem sucesso voltou.
Foi a última vez que vimos Logan. Depois de alguns dias, veio a notícia: Charles Kinnei, de um clã vizinho, veio avisar que encontrou Logan cortado ao meio. Como isso aconteceu, ninguém sabe... Só nos falaram que tiveram que queimar para não atrair visitantes indesejáveis.

Ariana Andriotti.



segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Eu nem queria mesmo...

É difícil de acreditar, mas nos últimos anos tudo está ficando limitado em minha vida. Eu finjo não dar bola, até para mim mesma. Não bastasse ter herdado os problemas ósseos de minha mãe, agora descobri uma doença que não tem cura na pele, que por acaso vem de minha mãe também. Então tá, não podia fazer determinados exercícios, determinadas posições que me incomodam, ou doem. Agora já não posso fazer tatuagens, tenho que cuidar a exposição ao sol... Tudo bem, eu nem queria mesmo fazer mais nenhuma linda tatto; eu nem amo ficar no sol; eu posso muito bem comprar um guarda-sol. Eu nunca gostei de passar cremes, afinal me deixam melecada e sempre considerei isso uma perda de tempo, sempre fui meio desleixada com essas coisas de beleza, como manter as unhas bem feitinhas, uma pele macia, um cabelo bem hidratado... Mas por outro lado, passar óleo duas vezes por dia, protetor fator 50 bem caro e mais um creme facial à noite vai me ajudar a não ficar velha precocemente. Mesmo que eu nem aparente ter a minha idade. Hoje estava conferindo mais alguns detalhes dessa minha doença que me acompanhará pra sempre e, adivinhe, agora que quero engravidar, corro o risco de abortar, ou de ter um bebê com baixo peso, ou parto prematuro, ou eclâmpsia. Também li que posso ter dificuldades em ter relações sexuais, beijar e fazer movimentos com as mãos. Pode isso? Deixa pra lá, eu nem estava tão emocionada com a ideia de engordar e ter que cuidar de um lindo bebê. E sobre o sexo, bem, essa não sou eu. Não será eu. Isso é tudo uma mentira de quem fez pesquisa sobre uma coisa que nem tem no corpo como eu e se acha no direito de tirar minha tranquilidade. Vou parar de pesquisar coisas sobre isso. Se um dia eu ficar torta ou frígida, já vou estar velha mesmo. E se não estiver, paciência, eu nem queria mesmo ser perfeita. Quem sabe eu encontro durante o caminho outras formas de ser feliz? Ou arrumo uma forma de morrer rapidamente. Mas e meu amor, como ficará? Ai, que coisa mais depressiva. Essa não sou eu. Tenho que parar de ler coisas ruins. Afinal, já melhorei muito dos outros problemas que eu tinha antes, eu posso estabilizar essa doença. Mas não posso ficar torta, não posso ter um bebê torto. Se for para ter uma criança que será problemática e infeliz, prefiro me contentar em viver só eu e meu amor. Eu não quero mais fazer tattos, torrar no sol, ter filho, fazer esportes radicais, correr, nadar, deixar de passar cremes. Eu não preciso de nada disso. Não fique com pena de mim, isso tudo poderia ser uma escolha. Eu nem lhe contei nada disso. Isso é tudo bobagem.


(trecho de um novo livro)