segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Eu nem queria mesmo...

É difícil de acreditar, mas nos últimos anos tudo está ficando limitado em minha vida. Eu finjo não dar bola, até para mim mesma. Não bastasse ter herdado os problemas ósseos de minha mãe, agora descobri uma doença que não tem cura na pele, que por acaso vem de minha mãe também. Então tá, não podia fazer determinados exercícios, determinadas posições que me incomodam, ou doem. Agora já não posso fazer tatuagens, tenho que cuidar a exposição ao sol... Tudo bem, eu nem queria mesmo fazer mais nenhuma linda tatto; eu nem amo ficar no sol; eu posso muito bem comprar um guarda-sol. Eu nunca gostei de passar cremes, afinal me deixam melecada e sempre considerei isso uma perda de tempo, sempre fui meio desleixada com essas coisas de beleza, como manter as unhas bem feitinhas, uma pele macia, um cabelo bem hidratado... Mas por outro lado, passar óleo duas vezes por dia, protetor fator 50 bem caro e mais um creme facial à noite vai me ajudar a não ficar velha precocemente. Mesmo que eu nem aparente ter a minha idade. Hoje estava conferindo mais alguns detalhes dessa minha doença que me acompanhará pra sempre e, adivinhe, agora que quero engravidar, corro o risco de abortar, ou de ter um bebê com baixo peso, ou parto prematuro, ou eclâmpsia. Também li que posso ter dificuldades em ter relações sexuais, beijar e fazer movimentos com as mãos. Pode isso? Deixa pra lá, eu nem estava tão emocionada com a ideia de engordar e ter que cuidar de um lindo bebê. E sobre o sexo, bem, essa não sou eu. Não será eu. Isso é tudo uma mentira de quem fez pesquisa sobre uma coisa que nem tem no corpo como eu e se acha no direito de tirar minha tranquilidade. Vou parar de pesquisar coisas sobre isso. Se um dia eu ficar torta ou frígida, já vou estar velha mesmo. E se não estiver, paciência, eu nem queria mesmo ser perfeita. Quem sabe eu encontro durante o caminho outras formas de ser feliz? Ou arrumo uma forma de morrer rapidamente. Mas e meu amor, como ficará? Ai, que coisa mais depressiva. Essa não sou eu. Tenho que parar de ler coisas ruins. Afinal, já melhorei muito dos outros problemas que eu tinha antes, eu posso estabilizar essa doença. Mas não posso ficar torta, não posso ter um bebê torto. Se for para ter uma criança que será problemática e infeliz, prefiro me contentar em viver só eu e meu amor. Eu não quero mais fazer tattos, torrar no sol, ter filho, fazer esportes radicais, correr, nadar, deixar de passar cremes. Eu não preciso de nada disso. Não fique com pena de mim, isso tudo poderia ser uma escolha. Eu nem lhe contei nada disso. Isso é tudo bobagem.


(trecho de um novo livro)

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