Sempre odiei vendedores insistentes e achava que todas as
espécies deles eram iguais. Certo dia resolvi pedir emprego em uma loja de
material de construção (sim, a Anastásia dos 50 tons roubou a minha história),
afinal, sou técnica em Edificações (aí você me pergunta:técnica em quê?). Pois
é, eu estava cansada de trabalhar em obras, com projetos, etc. Então fiquei
durante quatro anos nessa madeireira, popularmente assim denominada. Tornei-me
uma das melhores funcionárias, vendia tudo o que eu queria, visando o
"bem" do meu cliente, é claro. Vendedora, não! Mas, sim, consultora
de vendas. Aprendi muitas técnicas, passei a ser carismática, brincalhona e
despachada. Nada como o tempo pra me ensinar que eu podia gostar daquilo que eu
odeio nos outros!
Após mais algum tempo, percebi que aquilo era muito pouco
para mim, pelo lado profissional; e por outro lado, muito estresse e cansaço
físico. Quem mandou não estudar? Ok, um curso técnico já é alguma coisa, mas
chega um ponto em que o salário não sobe, o que sobe são as incomodações!
Resolvi fazer curso de inglês. Nossa, havia esquecido como
sempre tive facilidade com linguagem, lembro-me de um dia em que eu atendia uma
cliente e ela escreveu no verso do seu pedido de entrega um roteiro de como
chegar ao seu endereço. Quando eu fui ler, comecei a corrigir todos os erros
que via pela frente! Que vergonha, a mulher se desculpou pelo seu português
ruim e eu não sabia aonde me enfiar!
Em seguida fiz vestibular e entrei para a faculdade de Licenciatura
em Letras (inglês), apesar de nunca ter pensado em ser professora. Odiava essa
ideia. Por quê? Pela falta de reconhecimento do governo com esses grandes
profissionais e por medo de não ter paciência para passar meu aprendizado aos
estudantes. Porém, sabia que chegaria a hora de fazer meus estágios. No
primeiro, dei aula para estudantes acadêmicos, na própria universidade. Surgiu
essa possibilidade, em vez de dar aula para o ensino fundamental, e eu agarrei
rapidamente. Nesse período, eu quase não tinha sonhos que não fossem das
didáticas que eu deveria fazer com eles relacionadas ao programa do curso.
Aliás, tornaram-se pesadelos, principalmente porque eu deveria falar em tempo
integral em inglês, como a professora deles. Mas passou, e os alunos chegaram
até a me elogiar! Que alegria! Saí da sala de aula sorrindo pelo meu “good job”
e por ter terminado o sofrimento de planejar aula naquele semestre.
Depois, no meu segundo estágio, dei aulas para o ensino
médio. No entanto, foi diferente porque eu pude criar meu tema livremente, ou
seja, utilizei a literatura (que é o meu chão) para fazê-los interagir contando
histórias de diferentes formas, em inglês. Eles amaram e participaram o tempo
todo. Como eu faço parte de um projeto de docência da Capes (outra coisa que
resolvi fazer no impulso, mas que acabei gostando), já estava habituada com
pré-adolescentes e adolescentes de até 16 anos.
Se você me perguntar se foi bom, imagine que saí da
escola, no último de dia de estágio, com vontade de chorar. Sabe aquela pressão
nas amígdalas? Comecei a senti-la quando vários alunos vieram me abraçar.
Como não se apaixonar por pessoinhas carinhosas que,
percebe-se, só precisam de aulas mais atraentes para gostar de estudar? Como
não se tornar amiga desses jovens lindos? Realmente, a vida surpreende. E você
nunca saberá se gosta de pimenta sem experimentá-la.
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