Fui apresentado ao eletricista e fiquei aliviado, pois não
precisaria fazer eu mesmo o trabalho. Momentos antes eu estava quase cometendo
a burrice de mexer na rede, já que não aguentava mais a pressa em inaugurar meu
novo atelier, com belos retratos de molduras douradas, feitos por mim. Quem me
impediu de fazê-lo foi minha eficiente secretária, pois com eletricidade não se
brinca, então acatei. Às vezes penso se meu lado homossexual é a causa dessa
frescura, desse medo de eletricidade, do receio de arriscar, resolver os
problemas dos imprevistos que se atravessam nos meus preciosos minutos. Bem,
nada contra eletricistas, então me dirigi à sala principal, onde seriam feitos
reparos simples de troca de duas tomadas. Com isto, cessaria o inconveniente
das faíscas e aquele barulhinho chato indicando curto circuito. Entrei
calmamente e bem quieto, sem que ele pudesse perceber fiquei a admirá-lo. Eu,
magro e baixo, ele... Alto e forte. Fiquei a imaginar como seria aquele homem,
gosto de morenos. Certamente ele também era gay. Mas pensando e imaginando, não
pude controlar minha ereção. Poderia ter saído do mesmo jeito que entrei,
esquecendo totalmente dos fios que aquelas mãos pesadas tocavam. “Só que não.” Por
ali continuei e, ao virar para trás, o eletricista deparou-se comigo a analisá-lo.
Ficamos a nos olhar. Ficamos a nos olhar por alguns ansiosos instantes, ele sem
entender, desceu os olhos para minha bermuda. Ele percebeu. Espantado, voltou
sua cabeça para o que fazia anteriormente, pegou em um fio e sem prestar a
devida atenção cortou-o junto com outro, deixando uma falha na fita isolante. Levantou-se
com o olhar baixo, dizendo:
– Está feito, vou ligar a luz e depois acertar com a
secretária. – disse o eletricista, bufando e secando o suor, quase correndo até
o quadro de luz.
Após isto, nada mais. Apenas o cheiro de queimado misturado
com álcool. Acordei no hospital certo de que precisava mudar. Não era a
primeira vez que errava o alvo.
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